O contrapoder da Abstenção

Actualmente, a corrente dominante do pensamento político tem assumido que a organização do tecido social apenas pode ser realizada pelo poder e em função desse mesmo poder. Apesar da imposição pela força, da divulgação permanente e persistente desse pensamento político monolítico, novas ideias têm surgido e destas, a mais racional, o contrapoder. O contrapoder não é uma nova forma de poder para combater o poder. O contrapoder é um não-poder que organiza toda a sociedade sem recorrer a relações de poder. O contrapoder não é a anarquia e o caos social mas aceita como princípio paradigmático que a sociedade é tanto mais justa quanto menos hierarquizada em relações de poder. O contrapoder é a Democracia Directa em toda a sua plenitude. O actual poder é a democracia representativa, o contrapoder é a democracia directa. Em democracia representativa elegem-se representantes que depois vão exercer poder sobre quem os elegeu; em democracia directa não se elegem representantes e por isso, neste regime representativo, não se vota. As pessoas que pretendem exercer directamente o seu civismo, a sua cidadania, o seu dever cívico, não votam. Quem vota em representantes jamais exerce o seu dever cívico, apenas permite que esses representantes exerçam o seu dever cívico pessoal mais, a seu belo prazer, o dever cívico daqueles que lhes deram os votos. Votar é uma infantilidade, é um autoengano de quem não consegue pensar: quem vota não pensa, quem pensa não vota! Eu NÃO VOTO! Quando os actuais representantes verificarem que nada representam, que não têm qualquer legitimidade representativa para governar, que não são bem encarados pelas pessoas, que as pessoas os não querem, não gostam deles; que até podem governar pela tirania e pelo medo mas não com o consentimento das pessoas; esses representantes começarão a ficar inquietos, a ter receio e medo, aí sim, começará a marcha para a Democracia Directa; primeiro com a queda da partidocracia e uma abertura dos partidos à sociedade cível, posteriormente com as candidaturas por cidadãos individuais (próprias da democracia participativa) e finalmente será alcançada a Democracia Directa na qual ninguém votará em pessoas ou grupos de pessoas para governar mas apenas em propostas de lei, referendos ou outras propostas de decisão sobre problemas encontrados na sociedade. Nessa altura teremos democracia, nessa altura farei propostas e votarei em propostas, nunca votarei em pessoas, portanto até lá… NÃO VOTO, NÃO VOTE !                                                 29 de Março de 2015