VOTAR - UM DIREITO INDISPONIVEL

No ordenamento jurídico português, por semelhança com outros estados de direito, os direitos de personalidade são indisponíveis; e são indisponíveis porque esta ordem jurídica assenta na autonomia da vontade, portanto cada pessoa toma as suas decisões autónoma e voluntáriamente e por elas se responsabiliza, isto é, assume as consequências das suas decisões. Transferir a autonomia da vontade de uma pessoa para outra significaria, no minimo, infantilizar uma pessoa mas também a escravatura e até a animalização da pessoa humana; no limite desta transferência de vontade resultaria uma pessoa que tudo poderia sobre a outra e uma que nada poderia sobre si própria, esta última seria como que uma máquina ao sabor da primeira.
A fim de proteger a pessoa humana contra a escravatura e até contra a sua animalização e maquinação, a ordem júridica tornou indisponível o direito de personalidade, portanto uma pessoa não pode autonomamente, e sob a tutela do direito, subtrair-se á sua própria vontade. É neste contexto que surge o direito de votar como um direito indisponível, ou seja o titular deste direito pode usufruir dele mas não o pode transmitir a terceiro. O diretio de voto por ser um poder individual e indisponível, obriga o seu titular a o usar, se desejar, mas não o pode atribuir a terceiro, não pode nomear alguém que o represente, não pode dar ou vender o voto a outra pessoa que vote em seu nome.
O paradoxo da actual democracia representativa existe porque os representantes recebem votos das pessoas para depois lhes subtrairem a vontade e tomarem decisões por elas e sobre elas. Num país com dez milhões de habitantes e 230 deputados, é incrivel que cada deputado tome decisões por 43.478 pessoas; esse deputado deve sentir-se um herói! Como apenas aceitamos que cada pessoa tem um valor único, e uma pessoa não pode valer por outras, queremos acabar com a democracia representativa; queremos que o voto seja intransmissivel e cada pessoa vote em propostas para resolver problemas da comunidade e nunca em pessoas. Votar em pessoas é um contra sensú, é alguém diminuir-se face ao outro, é tornar-se dele dependente, é infantilizar-se. Assim: Contra a democracia representativa, VIVA A DEMOCRACIA DIRECTA!